“Convertei-vos e crede no Evangelho”. Com esta frase que é um convite e um apelo ao mesmo tempo nós iniciamos o tempo quaresmal. Tempo esse que nos convida a mudança de vida e uma renovação na nossa espiritualidade. Na história da Igreja, já no século IV d.C. havia indícios de uma temática penitencial em um tempo propício.
Sendo assim, Santo Atanásio, fundamentou este tempo, criando o que temos hoje como o tempo da Quaresma. Inspirado no Antigo Testamento, onde o povo viveu quarenta anos no exílio, tempo de sofrimento, no Novo testamento, onde Jesus permanece quarenta dias e quarenta noites no deserto, formou tal estrutura do tempo quaresmal que hoje temos. Quarenta dias aproximadamente de um tempo regado a uma espiritualidade penitencial. Tempo propício de arrependimento, conversão, reflexão e mudança de vida.
Iniciado na Quarta-feira de Cinzas e terminado na Quinta-feira Santa, o tempo da quaresma propõem um olhar carinhoso para a interioridade da pessoa humana desejando que este tempo dê frutos de conversão. Neste tempo tudo leva à oração e à meditação em vista de um agir humano com mais santidade de vida. Por isso a Igreja se reveste de roxo, cor extremamente simbólica, que nos remete a um silêncio interior que brota da visão não festiva de tal coloração litúrgica. A temática da cruz, do caminho com espinhos, com pedras e tortuosos revelam a dificuldade do caminhar para a santidade o qual também nos convida a quaresma.
No Brasil, um grande auxílio à mudança social para um bem maior, é a Campanha da Fraternidade, que de modo bem profético e criativo nos leva à reflexões sobre os mais diversos desafios da sociedade contemporânea. Dentre os mais recentes temas refletidos como a economia e o bom uso da água, a preservação da Amazônia, a luta por uma segurança pública de qualidade, a consciência da inclusão social para os portadores de deficiências físicas, a alerta do consumismo e adoração ao dinheiro; no presente ano de 2012 a CNBB nos convida a sensibilizar-nos com o tema da Fraternidade e Saúde Pública. Depende de nós a promoção da vida, quando saímos em defesa desta, denunciando, acompanhando a administração dos recursos destinados à saúde e utilizando bem o que temos enquanto sistema de saúde pública além da assistência aos enfermos e mais necessitados.
O tempo da quaresma é nutrido por um estilo de canto especial tendo em vista que se trata de uma temática penitente. O canto da quaresma é um canto sóbrio, sem glória, sem aleluia, é um canto que brota das profundezas do abismo em que nos colocaram nossos pecados. Mas também é o canto que nos faz experimentar o amor de Deus que quer nos arrancar da morte para a vida com a ressurreição para a vida eterna.
O ideal no tempo da quaresma seria uma Igreja que de maneira muito profunda vivencia a paixão de Cristo que é o sinal da misericórdia de Deus para com o povo pecador. Deus permite que Cristo se encarne e padeça na cruz, morrendo para pagar a divida que o pecado nos cumulou. Por isso mais que uma ausência de festas, o tempo quaresmal deve ser de profunda oração.
O correto seria criar em nossa casa, no quarto, em um local propício, um ambiente convidativo à oração, meditação e intimidade com Deus, para que não somente na Igreja se viva a espiritualidade penitencial, mas em casa e durante todo o dia, principalmente nas práticas quaresmais que a Igreja nos convida e que vale lembrar: O sacrifício, o jejum, a esmola, a caridade a oração, enfim, práticas que nos traduzem um modo diferente de viver este tempo de preparação para Páscoa do Senhor, na qual todo esforço quaresmal encontra sentido.
Sendo assim, esforcemo-nos para um bem viver do tempo da Quaresma, a fim de unir nossos sofrimentos e penitências à Paixão de Cristo em expiação dos nossos pecados. Roguemos também à Virgem das Dores que nos ensina, sobretudo neste tempo, a não abandonar a Cristo nem a cruz, mas manter-nos em pé na hora do sofrimento. Que a prática e a oração do tempo quaresmal nos conduza mediante nossa consciência do valor de tal tempo, à Vida Eterna.
Seminarista André Ricardo S. Lima.
1° Ano de Teologia.
Seminário Nossa Senhora de Guadalupe.
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